origem

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Entrevista de Kardec

Écapaz de definir numa frase o que lhe tem passado pela cabeça nas últimas semanas, ao saber que, aos 20 anos, assinava um contrato de cinco épocas e meia com o Benfica?

— Uma felicidade enorme. E depois outra coisa importante: conquistar títulos, desde já. É o que acontece quando se está num clube de nível mundial como é o caso do Benfica. Espero começar rapidamente a trabalhar com o plantel.

— Que impressões tirou da semana em que esteve em Lisboa, antes de assinar contrato?

— As melhores. O centro de estágios é fantástico, uma estrutura muito melhor do que existe no Brasil. Gostei muito de Lisboa, tem muita coisa parecida com o Brasil: primeiro, por causa da língua e depois pela culinária, pois aqui também há feijão, carne e batata. Fiquei apaixonado por tudo isto e é muito bom fazer parte de um clube com a grandeza do Benfica.

— Houve alguma reacção de familiares ou amigos que o tenham marcado, sabendo-se que você vinha jogar para Portugal?

— Até tudo se concretizar parecia um sonho de criança e até hoje parece que ainda hoje não acordei. Não houve festa em casa porque o tempo para descansar foi curto, mas deu para reflectir bem no ano de 2009 que passou: fui campeão sul-americano pela selecção do Brasil, vice-campeão mundial sub-20 [no Egipto], também pela selecção brasileira, vice-campeão brasileiro pelo Internacional de Porto Alegre. Foi um ano de muitas vitórias e não poderia fechar da melhor maneira: assinar pelo Benfica.

— Ficou surpreendido com o interesse do Benfica?

— Foi algo que me apanhou de surpresa: um dos maiores clubes do Mundo interessar-se no meu futebol. Tenho, por isso, de dar sequência e esperar que daqui a três ou quatro anos tenha muitos títulos com esta camisola, pois penso somente ficar neste clube.

«sinto-me bem

na grande área»

— Como se apresenta aos benfiquistas?

— Não gosto de me autodefinir, mas posso dizer sou um jogador de área, sinto-me muito bem nesse espaço. Prometo que vou trabalhar, tal como fiz no Mundial sub-20 com a selecção brasileira, no qual fui o melhor marcador da equipa, com quatro golos. Espero que no Benfica aconteça o mesmo, porque na selecção tinha essa confiança.

— É negativa, para si, a comparação que se faz entre o seu estilo e o de Jardel, ou é positivo porque é um bom cartão de visita?

— Há duas perspectivas: é bom ser comparado a Jardel, porque ele teve uma média de golos muito boa em Portugal. Mas por outro lado a pressão é maior: é uma fase nova na minha vida, tenho de adaptar-me o mais rapidamente possível ao futebol português, que é diferente do brasileiro.

— Mas a comparação é correcta ou não?

— Sinceramente não, porque ele foi um jogador que fez história, fazia mais do que um golo por jogo. Eu estou apenas a começar, só tenho 20 anos.

— Não falava de carreira, falava antes no estilo...

— No estilo, somos parecidos. Jardel fez muitos golos de cabeça, tinha presença de área, tal como eu. Mas, repito, tenho ainda muito para aprender e muito para fazer com a camisola do Benfica.

— Cardozo também é um homem de área. Conhece-o bem?

— Já o conhecia, porque no Brasil é fácil acompanhar tudo sobre o Benfica. Cardozo tem 14 golos na Liga e é sempre bom ter um avançado desses no plantel. Não só porque podemos aprender mas também porque é uma pressão adicional, positiva, para que eu possa melhorar enquanto jogador. Aprende-se com a concorrência. É muito bom estar num plantel com jogadores do valor de Aimar, Saviola, Cardozo, Luisão, Ramires ou Keirrison.

«sou diferente

de Keirrison»

— Falou em Keirrison: ele não conseguiu impor-se no plantel e vinha ainda mais rotulado de goleador do que você, pois chegou a ser o melhor marcador do campeonato brasileiro. Teme que possa acontecer o mesmo consigo ou acha que vai ser diferente?

— Estou confiante de que posso dar-me bem no Benfica e no futebol português. Penso que vou ter sucesso, porque tenho um estilo de jogo diferente [de Keirrison]: sou um jogador mais fixo, jogador de área. E no Benfica há mais possibilidade de fazer golos do que no Brasil, pois a bola chega mais vezes à grande área. Keirrison fez muitos golos no Brasil, considero-o um jogador muito bom, acho que mesmo que daqui a uns anos vai ser um dos melhores do Mundo, mas não conseguiu impor-se no Benfica. No Mundial sub-20, por exemplo, toda a equipa do Brasil estava montada de modo a jogar para mim.

— Explique...

— Tínhamos um sistema de jogo semelhante ao que existe no Benfica: apenas um trinco, três médios (dois deles abrindo nos corredores) e dois avançados. O meu colega de ataque era o Alex Teixeira [transferido para o Shakhtar Donetsk, n. d. r.]. A bola chegou muitas vezes à área e fiz vários golos. Por este motivo acredito que posso fazer o mesmo no Benfica, pois tem a táctica certa para o meu estilo de jogo.

— Garante que faz muitos golos se tiver muito jogo para si?

— Sim. Da maneira como a equipa joga, acredito que terei sucesso. Claro que tenho de respeitar os meus colegas, pois já estão cá há bastante tempo, mas se tiver oportunidade de jogar, acredito que vou marcar os golos que o Benfica precisa.

— Essa confiança não teve no Vasco da Gama? No ano em que a equipa desceu os adeptos não lhe perdoaram um golo falhado. É verdade?

— Num determinado momento os adeptos começaram a pegar no meu pé. Estou habituado à pressão, mas chegou um determinado momento em que isso atrapalhou e deixei de render o que posso. Eu sei que aqui terei pressão, mas venho com uma cotação diferente: sou um jogador contratado, venho da selecção brasileira sub-20 e espero que possa fazer no Benfica o mesmo que fiz no Mundial. Aliás, espero fazer melhor, porque o campeonato do Mundo durou pouco tempo e no Benfica terei muitos anos para fazer muitos golos.

— Nas equipas onde jogou (Vasco da Gama e Internacional de Porto Alegre) não tinha um esquema táctico bom para si?

— No Internacional de Porto Alegre estive pouco tempo, mas no Vasco Da Gama, apesar de a equipa contar com jogadores de grande qualidade, a bola não chegava muitas vezes à grande área. Mas no Benfica acredito que posso marcar muito mais golos.

— Vem encontrar muitos brasileiros. Isso é positivo para alguém que vem, por agora, sozinho?

— Vou sentir-me em casa. Vemos muitos jogadores de qualidade que não conseguem jogar bem no estrangeiro devido à falta de apoio, seja da parte familiar ou amigos. Aqui não terei esse problema, seguramente.

— Tem apenas 20 anos mas parece ter já a intenção de singrar no imediato. Considera que é um reforço para o presente ou mais para o futuro?

— Para o presente. Sei que vou precisar de um período de adaptação, mas espero poder começar logo a dar frutos, ou seja, começar a marcar golos.


fonte A Bola

Sem comentários:

Enviar um comentário