Em entrevista à Bola:
«No Benfica não joguei metade do que sabia» |
Por nuno paralvas |
Oque é feito de si? Há muito que não se ouve falar do Lima que marcou o golo em Marselha na meia-final da Taça dos Campeões. — Olha, moro em Belo Horizonte há 12 anos. Durante muito tempo não quis nada com o futebol. Não tenho perfil para treinador, sabe? Sou muito acelerado. Tenho uma empresa de engenharia e trabalho em rodovias. Há cinco anos estou ligado ao Grémio, observando guris (jovens). Levei um garoto de 13 anos para o Grémio, há três meses, que vai rebentar como Robinho e Ronaldinho. Chama-se Wildson, mas botei só o nome de Wil. Quando o vi jogar os meus olhos encheram-se de lágrimas. — Vive bem? — Depois de o futebol acabar, as coisas batem na pele. Mas levo uma vida tranquila. — Ainda fala com o Manuel Barbosa, que o trouxe para o Benfica? — Não. Lembro-me que estava num hotel no topo da avenida de Lisboa [Av. da Liberdade] e dizer-lhe que não ia assinar. Ninguém queria pagar os meus 15 por cento. Recebi metade. — É verdade que o comandante do avião deu uma volta sobre Lisboa para o Lima ver o Estádio da Luz? — Viajei com o Nuno Graciano [apresentador da SIC] e o pai dele era o comandante. Chamou-nos à cabine para dar essa volta. Mas, cara, eu grito e choro no avião. As viagens para a Madeira eram um desespero. Eu xingava de pavor, rasgava as calças vendo o avião batendo as asas. Aquilo era um sufoco. — O que recorda desse tempo? — Não sei dizer, cara. A gente no Brasil recebe o estrangeiro com Carnaval e churrasco. O povo português não é bem assim e a gente sente isso. Levei um ano a adaptar-me. O Benfica tinha quatro ou cinco brasileiros, mas ficava difícil. No início dava-me melhor com o Vata e Samuel. Talvez fosse a concorrência. Depois tudo ficou na paz. — Mas não teve boas memórias? — Entrar no Estádio da Luz com o Eusébio foi (pausa). Era como estar com o Pelé, cara. Sempre tive alegrias na vida e o golo em Marselha foi uma das maiores. Deixou-nos quase na final. E eu abri a capa da France Football. De repente, é uma coisa especial. E depois tudo começou a fluir para mim no Benfica. — Como foi o golo em Marselha? — Foi de cabeça. Voei em cima do Mozer. Eles tinham o Papin e uma equipa formidável. Mas também marquei dois ao Dniepr. Não consigo perceber como um clube tão grande não arma uma equipa para se bater com os grande europeus. Precisa de craques. Luisão deu algum equilíbrio. Tem mais brasileiros? — Ramires [interrompe] — É menino humilde e espectacular. Quando sentiu que podia fazer golos, foi na frente, descobriu o lado bom do negócio. — Como era a sua relação com Toni? — Nunca tive problema. Mas ele gostava mais do estilo de outros. Depois, o Eriksson tinha aquela coisa com os suecos. Na disputa com Magnusson, era ele que jogava. — Diziam que era molengão e gostava de mais de tocar violão? — No Benfica, não joguei metade do que sabia. No Brasil, tinha média de 35 golos por ano. Se fosse português talvez tivesse sido um rei. Molengão? Nunca simulei nada, juro pela felicidade dos meus filhos. Na final com o Milan, estava lesionado. Violão? É melhor tocar violão do que beber e fumar na noite. — A sua imagem prejudicou-o? — Era moda. No sul do Brasil, jogador tem de ser macho. Eu ia de blazer e gravata para os treinos. E fui o primeiro a botar brinco de brilhantes, na fonte de Roma [Fontana di Trevi], numa digressão do Grémio. Falavam que homem não podia. Mas era tudo bafafá [barulho]. — Diziam que era veado. — Era estilo. Nunca falaram que andava com a mulher mais bonita de Portugal. Ela morava em Cascais, parecia uma cigana, cabelos longos pretos e olhos azuis. Nossa, era uma loucura. Quando entrei no Grémio a torcida do Inter gritava Lima veado, mas não me intimidava. É a mesma coisa quando xingam os árbitros. — Gostava de enviar alguma mensagem aos benfiquistas? — Quero desejar toda a sorte do mundo ao Benfica. O povo merece. Ai, aquele Terceiro Anel e aquele vermelho são marcantes de mais. Não devia ter saído. Foi a coisa mais marcante da minha vida. Gostaria de colaborar com o clube. Você passa o meu número para o Shéu? |
Resumo do Marselha 2 - 1 Benfica (golo de Lima):
Marselha-2 Benfica-1 de 1990
Enviado por MemoriaGloriosa. - Mais videos de esportes profissionais, universitários e clássicos
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