quarta-feira, 17 de março de 2010
Crónica da Viagem à Madeira: Uma Ilha Sem Identidade Futebolística
As expectativas
Nunca tinha ido à Madeira mas já há muito que queria conhecer a ilha. Uma viagem ideal, na minha modesta opinião, tem sempre como objectivo principal ver o Benfica jogar, conhecer a gastronomia local, descobrir cultura musical e passear de copo na mão pelos locais emblemáticos e típicos.
O problema que se tem colocado para acompanhar o Benfica na Madeira tem a ver com a vergonhosa falta de organização que impera no nosso futebol. É um risco marcar uma viagem com muita antecedência, factor determinante para conseguir um viagem económica, porque é perfeitamente possível que um jogo que está marcado para domingo por defeito venha a calhar numa sexta ou numa segunda feira. Teria que marcar uma viagem de quinta a terça para ter a certeza que não perdia o jogo. Por isto nunca arrisquei reservar vôo antes.
Esta época quando o calendário de jogos começou a desenhar-se com mais clareza ficou evidente que o jogo da Choupana ficava no meio da eliminatória com o Marselha jogada à 5a feira. Assim foi fácil obter confirmação junto do Benfica que o jogo com o Nacional seria num domingo. E lá marquei viagem de sábado a segunda feira. Mesmo assim só suspirei de alívio uma semana antes com a confirmação oficial da Liga. Seria bom que as cabeças pensantes do nosso futebol um dia reflectissem sobre este assunto para o bem de todos os adeptos e das finanças dos clubes.
Já depois da reserva feita acontece a tragédia que todos sabemos na Madeira. As expectativas mudaram e a curiosidade em saber ao que ia aumentou. Por outro lado tinha ideia que na Madeira havia grande interesse por futebol com os adeptos divididos pelo amor ao Marítimo e Nacional e unidos pelo ídolo Cristiano Ronaldo.
Pelos amigos ilhéus que tenho aqui em Lisboa também esperava ser muito bem recebido no Funchal.
Uma Ilha Sem Identidade Futebolística
Depois de 3 dias passados na Madeira é com admiração e alguma desilusão que afirmo que não senti na ilha qualquer tipo de ligação ao futebol regional. Será culpa das minhas altas expectativas que apontavam para uma ligação do tipo que conheci no Minho ou em Setúbal, por exemplo.
Se há coisa que gosto de fazer nas minhas viagens é entrar em diálogo com os locais para saber das suas preferências clubisticas, conhecer melhor o futebol da região, e partilhar histórias dos nossos clubes. Tem acontecido assim em Londres, Barcelona, ou Madrid, por exemplo, e por cá um pouco por todos o país.
No Funchal não é nada fácil falar de futebol. Não encontrei um único adepto fiel do Marítimo ou do Nacional durante a nossa estadia em restaurantes, cafés, bares, etc. Ou encontrávamos benfiquistas que nos tratavam muito bem (aqui deixo um grande abraço ao adepto que conheci nas ponchas tradicionais da Venda do André na Quinta Grande que se ofereceu para pagar uns copos e que reencontrei no Estádio) ou ouvíamos como resposta que não eram nem do Nacional nem do Marítimo, torciam pelo Porto!
Isto a juntar a um generalizado mau feitio mostrado quando percebem que somos "continentais" não deixou grande imagem dos habitantes madeirenses. Fiquem a pensar na onda de solidariedade à volta da Madeira depois da tragédia.
Por falar nisso há que dizer que , pelo menos, na Avenida do Mar, a mais emblemática a nível turístico, quase não se nota o que ali aconteceu há semanas. Tudo operacional, tudo limpo, apenas alguns trabalhos finais ainda a decorrer. Quem não souber o que aconteceu nem desconfia.
Voltando ao futebol, nem parece que um dos melhores jogadores do mundo é natural daquela ilha. Nem uma imagem do CR9 pelas ruas...
Gastronomia e Paisagens Aprovadas
Como pontos muito positivos da viagem ficam as provas gastronómicas e as bonitas paisagens naturais da ilha.
A cerveja coral é muito boa e acompanhou-nos, literalmente, desde a chegada à partida. Fica o tributo às espetadas com osso, ou sem ele, em pau de louro com batatas fritas com alhos e orégãos do restaurante As Vides.
Fica no Estreito de Câmara de Lobos perto da igreja (Tel: 291 945322).
Pelos cafés/restaurantes do Funchal os pregos em bolo do caco também se aconselham e fique fã do peixe bodião, lapas, e ovas fritas.
Por último fica a sugestão das excelentes ponchas tradicionais na Venda do André na Quinta Grande. Uma casa no meio de uma estrada com uma vista magnífica.
Pela gastronomia a viagem à Madeira é para repetir.
Um Estádio de Acessos Surreais
Ainda não sei o que dizer do Estádio da Madeira. As instalações são excelentes. Tudo moderno, vista excelente para os adeptos que se sentem quase dentro de campo. Um estádio para 5 mil pessoas muito bem arranjado.
O pior é lá chegar.
O recinto fica lá bem no alto e a estrada não tem capacidade para receber 500 adeptos em dia de jogo quanto mais 5 mil!
A melhor comparação que consigo fazer é levar o leitor a imaginar que no lugar do Palácio da Pena em Sintra estava um estádio com capacidade para 5 mil pessoas. É imaginarem aquelas estradas cheias de curvas completamente paradas com carros.
Houve ali uma altura que desesperei no carro que ia a guiar e pensei que nem no intervalo chegava lá. Acabámos a subir a pé o resto do caminho enquanto uma condutora se ofereceu para ir estacionar o carro.
O pior foi no fim do jogo quando percebemos que o carro ficou a KM's de distância num caminho sem luz no meio do que me parecia ser um bosque. Enfim, uma experiência única. Se algum dia forem à Choupana ver um jogo vão 5 horas antes do jogo e preparem-se para o frio e humidade que sente bem lá no alto da ilha.
Um cenário que podia ter sido imaginado por David Lynch.
Um Final Feliz
Em jeito de resumo foi uma viagem agradável.
Decepcionante porque não esperava tamanho distanciamento por parte dos madeirenses em relação a nós (continentais) e julgava que uma região com dois clubes históricos na 1ª divisão nacional e com presenças regulares nas provas da UEFA teria uma identidade forte com as suas equipas.
Positivo, toda a gastronomia madeirense, ponchas e coral à frente, a beleza natural da ilha, os imensos benfiquistas locais, e a grande vitória do Benfica!
Provavelmente haverá regresso à ilha.
P.S.:um grande bem haja ao "Catenaccio" e sua mulher que forneceram algumas das fotos que ilustram este texto.
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GRANDEEEE JOAO !!!WELCOME BACKK e AMANHA TEMOS DE ACABAR COM OS DE MARSELHA.....
ResponderEliminarEstou igualmente surpreendido com as respostas que encontraste na Madeira. De facto, dão que pensar. Esperava um muito maior envolvimento dos madeirenses com os clubes da Madeira e não esperava um tão má recepção aos "continentais".
ResponderEliminarExcelente crónica.
Alexandre Calado
peixe bodião :)
ResponderEliminarGuilherme
Peixe bodião, Guilherme. Precisamente! Obrigado pelo reparo.
ResponderEliminarBom peixe. :)
Grande JG :)
ResponderEliminarExcelente crónica. Esqueces-te só da recepção prestada à equipa, na chegada ao Funchal. A loucura dos adeptos, as faixas de apoio, os gritos de incentivo... de resto, espelhaste bem como foi o fim-de-semana. Quanto tiver tempo, irei escrever a foto-reportagem com a minha visão desta aventura.
Em resumo: quem foi, vai querer voltar; não não foi, vai ficou com 'água na boca' para visitar a Madeira.
boas... tb lá estive, mas não para ver o benfica, para a pssagem de ano e na altura tb tive a infeliz ideia de ir à choupana, num micra 1000. o carro chegou lá acima quase a rebentar. jurei para nunca mais. De resto tb tive a mesma sensação que tu, a recepçao aos continentais não é muito efusiva, sendo inclusive desagradaveis por algumas vezes (para ilha turística...) Quanto à gastronomia, engordei 3 kg em cinco dias, diz tudo... (Provaste o pé-de-cabra? a bebida mais improvável do mundo...)
ResponderEliminarDe certeza que você veio à Madeira? É que pela descrição parece que se enganou na ilha.
ResponderEliminara parte da gastronomia e do pé de cabra eram elogios....
ResponderEliminarÉ pena que tenhas ficado com essa impressão da fraca recepção aos continentais e inadmissível que seja assim, mas possíveis razões por escrito será difícil de conseguir passar a ideia correcta sem ferir susceptibilidades....
ResponderEliminarEm relação ao futebol, por cá os adeptos maritmistas estão muito "adormecidos" pois tanta instabilidade nos ultimos anos e a subida do rival penso que levaram a um certo distanciamento(eu coloco-me nesse grupo...) em oposição a períodos brilhantes de bom futebol e bons resultados(Autuori). Os nacionalistas são mais ferrenhos mas menos.
Quanto aos benfiquistas já tinha dito que por cá somos de uma maioria esmagadora e qualquer oportunidade de ver o Glorioso ao vivo é aproveitada.
A choupana realmente....já te tinha avisado para ires bem agasalhado porque aquilo lá em cima é outro mundo,quase. E os acessos muito maus mesmo! Em compensação o estádio cheio e a festa benfiquista foram pontos positivos, acho eu!
PS: que regresses e que as impressões sejam melhores da próxima.
Eu sou madeirense e concordo com esta crónica. É tudo verdade! O autor é, de facto, um grande artista na arte de escrever.
ResponderEliminarPensava ele que ia chegar aqui e ver os madeirenses de espuma na boca a falar do Nacional e do Marítimo. Enganou-se e sabem porquê??? Porque o povo madeirense é racional. Não pensa com os pés e não vive o futebol ( à excepção de uns) como se de um deus fosse.
Quanto à recepção dos madeirenses, também fala verdade. Nós não recebemos desordeiros de braços abertos. Muito menos gente que só tem cabeça(?) para o futebol. Os turistas nacionais que cá vêm ( e são muitos ) não têm a mesma ideia. E sabem porquê?? Porque quando cá chegam não não começam a falar de futebol no aeroporto, na chegada e só param no aeroporto , na partida.
Qunato à choupana....ridículo no mínimo. Lá em cima, lá no alto...parece perto da lua.
Quanto ao facto de haver muito transito, este escritor deve de ir ao estadio da luz de metro porque nem olha para a segunda circular.
Lamento tanta barbaridade, mas penso que tenha saido da madeira com uma grande bebedeira de poncha que nem viu as coisas com olhos de ver.
Uma bebedeira que até foi paga por alguns madeirenses ( segundo o prórpio texto). E ele, pagou alguma coisa, ou só veio dizer mal.
Viva o Benfica...abaixo estes adeptos que têm palas nos olhos, tal qual burros.
anónimo,
ResponderEliminarobrigado pela tua intervenção. gosto mais quando os leitores se identificam.
acabaste por vir mostrar que temos na razão naquilo que se vem falando neste post.
apesar de tudo isso acabei dizendo que é para repetir a visita à ilha apesar de não me identificar muito com ilhéus como tu.
felizmente outros há que muito bem nos tratam.
abraço e se vieres a Lisboa avisa que tenho todo o gosto em receber de braços abertos e com uma sagres de oferta.
Sou Madeirense,provavelmente mais benfiquista(sócio há varios anos) que este senhor, e tenho a dizer que com toda a certeza não veio a esta ilha, ou então chegou e saiu daqui ébrio não conseguindo sentir o minimo desta ilha e desta gente.Se quer saber que tipo de gente somos pergunte ao André,o fundador dos no name boys, que ele te dirá quem somos. Nem perco mais tempo a comentar estas barbaridades porque não merecem que se perca tempo
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