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domingo, 16 de maio de 2010

Sport Timor e Benfica

Vale a pena ler a crónica de Delgado n'A Bola a relatar o entusiasmo que se vive em Timor com a presença do Presidente Vieira e de Nuno Gomes:



Timor, onde não há longe nem distância...
Terra de afectos, Timor recebeu delegação de braços abertos Vieira emocionou-se...
Por

josé manuel delgado

DÍLI — Luís Filipe Vieira e Nuno Gomes viajaram 14.400 quilómetros, transportando na alma palavras de esperança e gestos de solidariedade para com um dos países mais jovens do Mundo, Timor-Leste. Demoraram 24 horas a chegar a Díli, 20 das quais no ar, com uma noite mal dormida de permeio, a sobrevoar Irão, Afeganistão, Paquistão, Índia e Malásia. Chegados, porém, à capital timorense, o cansaço foi-se embora, espantado por uma extraordinária onda de calor humano que nem a húmida canícula tropical evitou. Porque como escreveu o norte-americano Richard Bach, «não há longe nem distância.»

No aeroporto Nicolau Lobato, centenas de benfiquistas aglomeraram-se entusiasmados, vitoriando os embaixadores encarnados e gritando as mesmas palavras de ordem ouvidas, há uma semana, do outro lado do Mundo, no estádio da Luz: «SLB, SLB, SLB, Glorioso, SLB...», «Nós só queremos Benfica campeão» e «Campeões, campeões, nós somos campeões...»

A caminho do Hotel Timor — palco de uma das maiores manifestações de júbilo da nação timorense, a proclamação, em 1999, dos resultados do referendo, antecâmara da independência — a vasta comitiva, composta por uma dezena de veículos, foi amiúde vitoriada. Porém, uma das mais visíveis acções dos anfitriões do Sport Díli e Benfica (SDB), gorou-se. Na estrada que liga a capital ao aeroporto tinham sido colocados, durante a noite, onze cartazes de felicitações aos novos campeões nacionais de futebol. Durante a noite, porém, desapareceram misteriosamente, levados, garantiram responsáveis do SDB, por adeptos encarnados, desejosos de ficar com uma recordação do 32.º título nacional do clube.

RAMOS HORTA, O LEÃOJosé Ramos Horta, Presidente da República de Timor-Leste, que hoje oferece um jantar oficial à comitiva benfiquista, recebeu Luís Filipe Vieira no aeroporto. Não se pense, porém, que o Prémio Nobel da paz e assumido sportinguista, furou o protocolo de Estado ao dar as boas-vindas, ao vivo e a cores, a Vieira e Rui Costa.

O presidente timorense deslocara-se ao aeroporto para saudar, à chegada ao país, Francisco Xavier do Amaral, primeiro líder de Timor-Leste após a proclamação da independência em 1975, que regressava de Singapura, onde estivera por razões clínicas, e ao saber que no mesmo avião viajava a delegação portuguesa manifestou vontade de dar as boas-vindas a Luís Filipe Vieira, Nuno Gomes e também a João Gabriel, director de comunicação do Benfica que, ao longo da década de 90, quer como jornalista, quer como adjunto do Presidente Jorge Sampaio, deu contributo assinalável à causa do povo maubere.

Na singela cerimónia, Ramos Horta lembrou que era sportinguista de coração, circunstância que não o impedia, porém, de reconhecer a força dos rivais. E o presidente de Timor-Leste até chegou a brincar com a falta de militância sportinguista no seu país, dizendo que «os sportinguistas que conheço estão quase todos com os pés para a cova...»

CAMPO DA LIBERDADEO primeiro acto oficial do périplo benfiquista aconteceu no Campo da Liberdade, pertinho do Hotel Timor, excelente unidade com gestão portuguesa, onde os encarnados estão instalados. Vieira e Nuno Gomes foram as figuras principais da inauguração de uma feira de artesanato e produtos regionais, instituída a propósito do aniversário da independência de Timor-Leste. Na cerimónia, culminada pela abertura de um bolo (a cargo de Nuno Gomes) e duas garrafas de espumante, estiveram presentes os embaixadores de Portugal e da República Popular da China, o representante da ONU, o ministro da Economia de Timor-Leste, João Gonçalves e o vice-primeiro ministro, José Luís Guterres.

O Campo da Liberdade — que de recinto de futebol tem apenas as balizas — é normalmente utilizado pelas equipas locais para treinos, facto que deixou Nuno Gomes visivelmente apreensivo. «Como é possível que possam jogar à bola aqui?», deixou no ar...

Para terminar o dia faltavam duas visitas, a primeira à Rádio e Televisão de Timor-Leste, onde Luís Filipe Vieira foi recebido pelo presidente da operadora, Expedito Ximenes, com quem debateu a futura entrada da Benfica TV no espectro televisivo timorense; e a última aos militares da Guarda Nacional Republicana, estacionados em Díli.

No quartel que acolhe os GNR, a emoção subiu a parâmetros impensáveis, em primeiro lugar pelo número de militares que se apresentaram vestidos com camisolas do Benfica, depois pela paixão com que o título 2009/10 foi ali vivido.

A todas as solicitações, Vieira e Nuno Gomes responderam com simpatia e disponibilidade absoluta; Nuno bateu o recorde de fotografias tiradas e o presidente encarnado acabou a visita a aceitar um convite para almoçar «um franguinho assado».

Fim de festa — no que ao primeiro dia (que já ia em quase 40 horas!) respeitava — exemplar, com o subagrupamento Bravo, que tem uma bandeira do Benfica junto à imagem de Nossa Senhora do Carmo, a despedir-se do presidente e do capitão do Benfica gritando a plenos pulmões «SLB, SLB, SLB, Glorioso, SLB».

Vieira abandonou o quartel muito satisfeito e igualmente emocionado. Depois, seguiu-se um jantar com dirigentes do Sport Díli e Benfica. Noite acabada? Não. Luís Filipe Vieira decidiu desafiar Nuno Gomes e João Gabriel para uma caminhada nocturna de 10 quilómetros. E lá foram os três, perdão foram muitos mais porque a segurança não largou os portugueses, enfrentar a humidade e o calor da noite timorense.

Hoje, alvorada às seis da manhã e duzentos quilómetros de estrada tortuosa até Maubisse, onde decorrerá um encontro com Xanana Gusmão. Um dia que terminará com um jantar com Ramos Horta.

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