Por
ricardo araújo pereira
HÁ duas alturas em que uma equipa consegue fazer uma época mítica. Uma é quando os seus jogadores praticam bom futebol, despacham os adversários com goleadas, enchem os estádios. Outra é quando os seus adeptos se entretêm a inventar mitos. Na impossibilidade de verem a sua equipa cumprir os requisitos da primeira, há colunistas que se vêem forçados a optar pela segunda. É o caso de Miguel Sousa Tavares. A sua última crónica era um soberbo monumento de mistificação. Dizia ele sobre o Benfica: «[n]o último campeonato ganho, o do Trapattoni, (…) nos últimos dez jogos todos os golos dos encarnados aconteceram de penalty e livres inventados ou duvidosos à entrada da área». Ou seja: no ano em que o Porto teve três treinadores, e na mesma época em que obteve o recorde de maior derrota caseira da liga (os célebres 0-4 frente ao Nacional), como conseguiu o Benfica ganhar o campeonato? Como é óbvio, com o auxílio da arbitragem. De outro modo, não se concebe como teria podido superiorizar-se ao fortíssimo Porto de Del Neri, Fernandez e Couceiro. Não houve presidentes do Benfica a receber árbitros em casa, nem vice-presidentes apanhados a oferecer quinhentinhos, nem viagens pagas ao Brasil — mas foi demasiado evidente que os árbitros beneficiaram o Benfica naqueles «últimos dez jogos», em que «todos os golos dos encarnados aconteceram de penalty e livres inventados ou duvidosos à entrada da área». Só há um pequeníssimo problema. É que isto é mentira (lamento, mas não há outra palavra). Nos últimos dez jogos desse campeonato, o Benfica jogou, por exemplo, com o Gil Vicente. Ganhou por 2-0, com um golo de Mantorras de bola corrida, a passe de Manuel Fernandes, e outro de Miguel, também de bola corrida, a passe de João Pereira. Depois, jogou com o Setúbal. Voltou a ganhar por 2-0, com um golo de Manuel Fernandes de bola corrida (belo remate de fora da área) e outro de Geovanni, também de bola corrida, na sequência de jogada pela direita. A seguir, jogou com o Marítimo. Ganhou por 4-3, com dois belos golos de Nuno Gomes, ambos de bola corrida (um a passe de Miguel e outro após centro de Geovanni), outro de Mantorras, em lance de (talvez o leitor já tenha adivinhado) bola corrida, e ainda um de Miguel, em remate de fora da área, na sequência de livre de Simão. E ainda jogou com o Estoril. Ganhou por 2-1, com um golo de Mantorras, após um canto (não um penalty), e outro de Luisão, depois de um livre junto à bandeirola (não à entrada da área). Claro que houve jogos que o Benfica venceu com um golo de penalty, como o Benfica-Belenenses, curiosamente na mesma jornada em que o Porto ganhou por 1-0 ao Marítimo com um golo de McCarthy em fora-de-jogo. Mas, a menos que dez jogos tenham deixado de ser dez jogos, ou que a expressão «todos os golos dos encarnados» tenha deixado de significar «todos os golos dos encarnados», Sousa Tavares inventou um mito.
No entanto, o atraso de uma equipa no campeonato é directamente proporcional à capacidade de efabulação dos seus adeptos. Não se estranha, portanto, que Sousa Tavares tenha prosseguido: «lembro-me bem do penalty decisivo, no último jogo no Bessa, que foi dos mais anedóticos que já vi assinalado». Mais uma vez, é mentira (peço desculpa, mas não há mesmo melhor palavra) que o penalty tenha sido decisivo. O Benfica terminou o campeonato três pontos à frente do Porto. Sem o ponto que aquele penalty garantiu, teria sido campeão na mesma. Resumindo: como o Porto (ainda) não consegue vencer campeonatos estando dois pontos atrás do primeiro classificado, aquele penalty não foi, de todo, decisivo.
Finalmente, a propósito do golo do Braga, diz Sousa Tavares que «entre a saída da bola e o golo decorreram uns trinta ou quarenta segundos em que a bola passou por uns seis jogadores e poderia ter sido umas três vezes definitivamente afastada pelos jogadores do Marítimo antes do belíssimo pontapé fatal de Luís Aguiar.» Permitam-me que atalhe para informar que isto é, como dizer?, mentira. Entre a saída da bola e o golo decorreram, não quarenta, não trinta, nem mesmo vinte, mas dez segundos. E a bola passou por dois jogadores do Marítimo que, no meio de sucessivos ressaltos, não conseguiram sequer tirá-la da grande área. A título de exemplo, compare-se com o golo do Benfica ao Porto. Entre o fora-de-jogo de Urreta e o belíssimo pontapé fatal de Saviola decorreram 13 segundos. E a bola é tocada por quatro jogadores do Porto que conseguem afastá-la para bem longe da área. A diferença é que o lance do Braga é uma minudência, mas o do Benfica é uma mancha que ficará para todo o sempre.
Éo que costuma acontecer aos moralistas: tanto tempo a acusar o Benfica de querer ganhar fora do campo, e afinal é o Braga que faz jogadas fora das quatro linhas. Domingos Paciência, que tem historial de estar a olhar para o chão e não conseguir ver lances polémicos, compreendeu o fiscal de linha. Disse que, provavelmente, o árbitro auxiliar não viu a bola fora porque «estava muito perto». Trata-se de uma hipótese brilhante. Pessoalmente, sempre achei que isto de colocarem os fiscais de linha junto da linha era uma estupidez. Em todo o caso, quando o Braga visitar o Benfica, talvez seja bom que Jorge Jesus jogue com dois laterais de cada lado. Um do lado de dentro da linha, outro do lado de fora.
Segundo a opinião insuspeita e prestigiada de Cruz dos Santos, apesar do que por aí se berrou e dos cabelos que se arrancaram, não é certo que tenha havido penalty sobre Ruben Micael no jogo contra o Leixões. Ruben Micael protestou, mas a verdade é que Ruben Micael protesta contra todas as decisões de todos os árbitros. Aparentemente, alguém deve dinheiro a Ruben Micael, ao menos tendo em conta a superioridade chorona que ele exibe em todas as ocasiões. É muito divertida, aquela indolência sobranceira própria de quem parece estar convencido de que é o melhor jogador português. O drama de Ruben Micael é que nem sequer é o melhor jogador madeirense.
Na Luz, embora o futebol tenha sido menos bom do que é costume, o teatro foi de alto coturno. Comovente, o modo como Bruno Vale, depois de cortar a bola com a mão, tentou enganar o árbitro fingindo ter levado com ela na cara. Foi um bom momento, mas é uma estratégia que não resulta em qualquer estádio. No Dragão, por exemplo, os guarda-redes são expulsos mesmo quando levam com a bola na cara.
Hulk incorreu numa infracção punível com uma pena de seis meses a três anos. Em princípio, se houvesse circunstâncias atenuantes, seria punido com um castigo mais próximo dos seis meses. Se houvesse circunstâncias agravantes, seria punido com uma pena mais próxima dos três anos. Apanhou quatro meses. Recordo que a lei previa um mínimo de seis. A Comissão de Disciplina alega a existência de uma forte atenuante: Hulk foi provocado. Ficou provado que os stewards não insultaram nem agrediram (enfim, o equivalente ao Guarda Abel, como muito perspicazmente têm assinalado vários adeptos do quarto classificado). Mas, ainda assim, conseguiram provocar. As piores provocações são, como sabemos, as que não consistem em insultos nem em agressões. Daí constituírem as melhores atenuantes, e contribuírem para uma punição inferior ao que a lei estipula. Vamos supor que, em vez de uma atenuante, a Comissão tinha identificado uma agravante. Alguém acredita que Hulk tivesse sido punido com um castigo superior ao limite máximo previsto na lei?
sábado, 20 de fevereiro de 2010
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Crónica brilhante do RAP em defesa do Benfica, desmascarando o "mentiroso" MST.
ResponderEliminarAbraço glorioso.
Aproveito para saber da v/disponibilidade para uma entrevista. Se houver interesse, por favor entre em contacto pelo mail que se encontra no meu blog.
compro religiosamente o jornal de sábado por ele, é dos poucos que nos defende de forma séria e correcta.
ResponderEliminarajudem-me a divulgar a forma mentirosa como rui moreira (tal como sousa tavares) escreveu na sexta-feira passada nA' Bola.
http://benficadependente.blogspot.com/2010/02/rui-moreira-mentiroso.html
tiago pinto
cumprimentos
Ricardo, permite-me tratar-te por tu, obrigado pelas tuas palavras, que sendo verdade, ninguém as escreve como tu.
ResponderEliminarHá pessoas que ficam cegas com tudo o que tem a ver com Benfica. Custa-me ver há tanta gente desempregada neste país e ao mesmo tempo há gente a ganhar pequenas fortunas para escrever parvoíces.
Enfim...
Obrigado Ricardo pelas tuas palavras.
CC
PS:Como será quando te encontrares com ele na SIC? :)
Vê este blog: www.porumbenficamaior.blogspot.com
ResponderEliminarPode passar por aqui a revolução que o Benfica precisa !
Lê, participa, assina a petição, espalha a mensagem!
Se também és do Benfica, faz por ele ser realmente o Maior e Mais Poderoso Clube do Mundo !
(Espalha esta mensagem ! Fazer crescer o Benfica depende dos Benfiquistas !)
O último campeonato ganho pelo benfica não foi aquele q conseguiram marcar o jogo contra o estoril para o algarve? esqueceu-se certamente desse pormenor sem a minima importância. O rap tal como todos os outros cronistas é parcial, e qd tenta mostrar que n o é só cai no ridiculo.
ResponderEliminarum texto interessante, sem dúvida.
ResponderEliminarpasso à frente da discussão com o MST. não faz sentido estar a alimentar uma discussão com 5 anos de atraso, quando toda a gente já percebeu o óbvio: os benfiquistas nem sabem como conseguiram ganhar o campeonato e para todos os outros adeptos esse campeonato foi ganho de uma forma no mínimo suspeita.
também não vou falar do ruben micael (qual é a diferença entre a atitude dele em campo e o comportamento, por exemplo de um carlos martins?), nem do castigo ao hulk (o azar dele foi ter agredido um tipo pago pelo benfica vestido de segurança. se tivesse agredido um tipo pago pelo benfica vestido de jogador levava no máximo um cartão amarelo - ver a jurisprudência sobre o caso).
vou apenas falar sobre isto:
"A diferença é que o lance do Braga é uma minudência, mas o do Benfica é uma mancha que ficará para todo o sempre."
e vou escrever duas ou três notas sobre o assunto.
parece-me completamente ridículo comparar um fora de jogo não assinalado, com uma bola que sai pela linha lateral. para já num caso, o fora de jogo era de uns bons 2 metros enquanto no caso do braga a bola saiu uns 10 centímetros. depois, no primeiro caso o jogador do benfica seguia isolado dentro da área, no caso do braga a bola estava bem longe de um local perigoso.
por outro lado a imprensa e as televisões portuguesas foram bem rápidas em dizer que o braga ganhou ao marítimo com um golo ilegal e na transmissão da sportv essa imagem passou em directo umas boas 5 ou 6 vezes. comparemos isso com o tratamento dado ao lance do benfica-porto. nem a sporttv durante a transmissão deu qualquer importância ao caso, nem nos dias seguintes ao jogo esse lance foi referido como tendo interferência directa no resultado final do jogo. eu próprio só fui alertado para esse fora de jogo uns bons 2 dias depois do jogo.
utilizando o mesmo principio lógico utilizado no jogo do braga, onde estão as notícias da bola e da sic a dizer que o benfica ganhou ao futebol clube do porto com um golo ilegal? nunca vi. pelo contrário. apenas foi referido o banho de futebol e a superioridade em campo, que eu não ponho em causa.
agora vou especular, ao bom estilo do RAP ou de qualquer tertuliano benfiquista que se preze: some-se esse golo ilegal, ao golo mal anulado contra o paços e ao penalti que ficou por marcar contra o leixões (que foi penalti para todo o mundo menos para o insuspeito cruz dos santos, o mesmo que escreve que o leixões não fez anti-jogo no jogo contra o porto, quando eu, só na segunda parte, vi 6 jogadores do leixões a receber assistência médica sem qualquer razão aparente), faça-se as contas e veja-se quem provavelmente estaria agora na primeira posição do campeonato português.
uma pista, não é a equipa que pratica melhor futebol na europa e arredores e que ainda esta semana conquistou um impressionante empate com o último classificado da bundesliga..
"o fora de jogo era de uns bons 2 metros "
ResponderEliminarLOLOL
Estás a querer imitar o Sousa Tavares???
Passaram-se anos em que os comentadores afectos ao FCP, defendiam com unhas e dentes o seu clubes, utilizando inúmeras vezes a mentira. Os afectos ao nosso clube, parecia que não tinham coragem ou argumentos para retorquir. Mas ultimamente tenho constatado que começa a haver gente que nos defenda, contra-argumentando e apresentado factos, e não apenas falácias. E o RAP é um deles, e com muita categoria. Bem haja RAP.
ResponderEliminarepá, entre as mentiras do MST e as meias verdades do RAP venha o diabo e escolha.
ResponderEliminarcoloquei no meu blog pessoal também, para que toda gente saiba que são estes os fdp, os verdaeiros fdp`s
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