origem

domingo, 3 de janeiro de 2010

Luz ao Fundo do Túnel



São cinco os jogadores do FC Porto no fio da navalha Além de Sapunaru e Hulk, também Helton, Fucile e Rodriguez foram flagrados Vídeo vai estar na posse da Liga
Por

Rui Baioneta

Agrava-se o cenário para o FC Porto no rescaldo do clássico que opôs, na Luz, no passado dia 20 de Dezembro, águias e dragões. Depois do jogo, e em função dos relatórios do árbitro e do delegado da Liga, foi instaurado processo disciplinar aos portistas Hulk e Sapunaru, que ficaram automaticamente suspensos até à conclusão do processo pela CD da Liga, circunstância apenas possível devido a uma alteração ao regulamento proposta pelo FC Porto e aprovada pelos restantes clubes, com excepção do Benfica, que se absteve.

Agora, através das imagens dos incidentes colhidas pelo sistema de vídeo-vigilância do Benfica, que chegarão à Liga, A BOLA sabe que também Helton, Fucile e Cristian Rodriguez poderão estar sujeitos a averiguação disciplinar.

OS ACONTECIMENTOS

Rebobinemos a fita e relembremos os acontecimentos posteriores ao Benfica-FC Porto que estão na raiz da tempestade que se aproxima a passos largos: quando a partida terminou, no túnel do estádio da Luz cerca de uma dezena de stewards da empresa PROSEGUR, que trabalhavam sob a supervisão de um coordenador, recebendo ainda instruções do delegado da Liga (ao mesmo tempo que Carlos Lucas, o novo responsável pela organização de jogos, assistia aos procedimentos) instalaram-se a meio do corredor no sentido de separarem águias e dragões no momento do regresso às cabinas.

Tudo decorreu dentro da mais absoluta normalidade até ao momento em que todos os jogadores entraram nos balneários. Os benfiquistas foram os primeiros a recolher à cabina, sem que nada de especial houvesse a assinalar e os portistas chegaram pouco depois, cabisbaixos e contrariados com o resultado, tendo até Fernando exteriorizado a amargura com um pontapé na manga extensível. O último jogador a regressar das quatro linhas foi David Luiz, que tinha ficado para trás a encaminhar um adepto que saltara para o relvado para o saudar, até às bancadas. O defesa do Benfica passou por Hulk, a quem deu um abraço, seguidamente despediu-se da mesma forma amigável de Helton e dirigiu-se à cabina encarnada.

Quando todos os jogadores já estavam nos balneários, a equipa de arbitragem liderada por Lucílio Baptista chegou ao fim da manga e nesse mesmo instante vários jogadores do FC Porto saíram da cabina e dirigiram-se ao local por onde os árbitros estavam a passar. Imediatamente, os stewards colocaram-se em posição, impedindo qualquer contacto dos dragões com a equipa de Lucílio Baptista que, excepção feita ao quarto árbitro João Ferreira, seguiu caminho.

Imediatamente depois de Lucílio Baptista ter saído de vista, começou uma discussão onde também participou Reinaldo Teles, delegado ao jogo do FC Porto, que descambaria numa incrível cena de pancadaria.

BALBÚRDIA NO TÚNEL

Perante o olhar atónito, entre outros, do delegado da Liga, de João Ferreira, de Carlos Lucas e de Rui Costa, Sapunaru e Hulk, numa primeira fase e Helton, depois, tiraram satisfações do coordenador dos stewards (que tinha colete laranja, enquanto que os seus subordinados vestiam colete amarelo), sem que seja perceptível qualquer agressão prévia deste que, inclusivamente, nem se encontrava na linha da frente.

Depois de rodearem os restantes stewards, Hulk e Sapunaru envolveram-se com o coordenador e se as investidas de Hulk não deixaram rasto líquido, já o mesmo não pode dizer-se da acção de Sapunaru que, com um soco de esquerda, abriu a testa do funcionário da PROSEGUR. Para acabar esta cena, Helton também chegou a vias de facto, aplicando, à frente de mais de uma dezena de testemunhas, um pontapé no baixo ventre ao coordenador dos stewards.

Este seria suturado, à ferida na testa, na cabina do Benfica sendo mais tarde transportado ao Hospital. Apresentou queixa na Polícia contra Hulk, Helton e Sapunaru e será visto, esta semana, no Instituto de Medicina Legal. Entretanto, as autoridades policiais já solicitaram ao Benfica uma cópia dos registos de vídeo-vigilância, que pretendem juntar ao processo-crime.

'sururu' URUGUAIo

Mas não foram só Hulk, Sapunaru e Helton a envolverem-se na zaragata do túnel. Também os uruguaios Fucile e Cristian Rodriguez viram a sua acção registada para a posteridade na terceira parte do clássico de 20 de Dezembro.

O envolvimento dos uruguaios não foi com o coordenador dos stewards, que esteve no olho do furacão com Hulk, Sapunaru e Helton, mas sim com um dos seus subordinados. A BOLA sabe que as imagens mostram claramente os internacionais celestes (e também Sapunaru) a puxar um dos stewards de colete amarelo, atingindo-o de seguida com vários socos. São imagens claras e inequívocas, até porque os dois sul-americanos ainda tinham o equipamento, com nome e número nas costas, vestido.

Também o steward atingido por Fucile, Rodriguez e Sapunaru apresentou queixa na polícia, tendo, como sucedeu no caso do coordenador, sido solicitada pelas autoridades a entrega dos registo-vídeo para fazerem parte do processo que está em fase de investigação.

O QUE SE SEGUE

Para já, com Hulk e Sapunaru (aqueles cujo comportamento foi detectado por João Ferreira) preventivamente suspensos, a Comissão Disciplinar da Liga deverá, ainda esta semana, começar a debruçar-se sobre o processo disciplinar em curso. Uma das peças mais relevantes, que correrá ao lado da prova testemunhal, é aquela que resulta da vídeo-vigilância, feita, no caso do estádio do Benfica, por quatro câmaras que permitem a plena observação simultânea de todas as fases dos incidentes, sem deficiências de luz, de cortes ou de deficiências técnicas que já impediram que outros casos tivessem a sequência normal.

Em breve se terá, em primeiro lugar, uma ideia mais concreta sobre os timings de resolução do caso que está em cima da mesa da Comissão Disciplinar; depois a decisão sobre eventuais medidas cautelares a aplicar relativamente a Helton, Fucile e Cristian Rodriguez. Em paralelo correrão os processos desencadeados, junto das autoridades policiais, pelos dois funcionários da PROSEGUR agredidos no túnel da Luz, contra os cinco jogadores do FC Porto.



Regulamento prevê penas pesadas
Ainda esta semana haverá desenvolvimentos, em sede da Liga, do caso do túnel da Luz
Sobre Helton, Cristian Rodriguez e Fucile paira o espectro de uma penalização dentro dos parâmetros a que de momento se habilitam Sapunaru e Hulk.

O Regulamento Disciplinar daLiga (RD) prevê sanções severas para casos de agressão de jogadores a outros intervenientes no jogo com direito de acesso ou permanência nos recintos desportivos (e menos severas se se tratar de resposta a agressão).

É precisamente isso que decorre dos termos do artigo 115.º,n.º1, e) e f) e n.º 2; e do artigo 120.º.

O RD,no que respeita a agressões,na forma consumada ou tentada, por jogadores, reza assim:

ARTIGO 115.º 1.- São punidas nos termos das alíneas seguintes as agressões praticadas pelos jogadores contra (...) delegados ou outros intervenientes no jogo com direito de acesso ou permanência no recinto desportivo:

e) Agressão que determine lesãode especial gravidade quer pela sua natureza quer pelo período de incapacidade: suspensão de 1 a 6 anos e multa de € 5.000 (cinco mil euros) a € 25.000 (vinte e cinco mil euros);

f) Agressão em outros casos: suspensão de 6 meses a 3 anos e multa de € 2.500 a € 7.500 .

2. Os factos previstos nas alíneas do número anterior quando na forma de tentativa são punidos com os limites das penas acima indicadas, reduzidas a metade.

ARTIGO 120.º 1. a) Resposta a agressão: suspensãode 2 a 6 jogosemulta de € 1250 (mil duzentos e cinquenta euros).

Agora, serão, por certo, a abundante prova testemunhal e o suporte vídeo a fornecer elementos para a sentença que se quer rápida.

Sem comentários:

Enviar um comentário