Preparava-me eu para me atirar a um texto sobre a triste 1ª jornada do nosso triste campeonato quando vejo que o
Fernando Guerra (A Bola) me fez o favor de se antecipar e expor, com muito mais qualidade do que eu poderia fazer, a verdade após um fim de semana a ver futebol. Vale muito a pena ler:
Liga armadilhadaESTE fim-de-semana começou a Liga inglesa. Dez jogos, com golos em todos: 24 no total, o que dá a média de 2,4.
Na Alemanha, a Bundesliga cumpriu a segunda jornada. Nove jogos e todos com golos: 28, a que poderemos juntar os 26 da ronda inaugural. Na Liga 1 de França a capacidade concretizadora atingiu a mesma saliência: 30 golos numa dezena de encontros.
Por cá, foi assim: apenas uma vitória por golo solitário (Sp.Braga-Académica, 1-0); três jogos a zero (Leixões-Belenenses, Naval-Olhanense e V. Setúbal-V. Guimarães) e quatro empates a um golo (Nacional-Sporting, U. Leiria-Rio Aves, P. Ferreira-FC Porto e Benfica-Marítimo). Em face de tamanha pobreza franciscana as conclusões são obrigatoriamente aterradoras: nove golos em oito jogos, a pior média de sempre (1,13) na jornada de estreia.
Reagirão os vendedores de ilusões com a prosápia do costume: que tão destroçado cenário não pode servir de exemplo, que se tratou de caso isolado, de uma excepção que não confirma a regra e por aí adiante. Tretas e mais tretas, digo eu. Nas 30 jornadas do último campeonato da Liga marcaram-se 552 golos (média de 2,3), nada mau, de facto, comparando com a secura do fim-de-semana, mas ainda assim abaixo dos registos de outras ligas europeias: 1101 golos em Espanha (2,8 de média), 894 na Alemanha (2,9), 988 em Itália (3,2) e 942 em Inglaterra (2,4). Neste ultimo caso, se retirarmos os quatro últimos e limitarmos as contas ao mesmo número de participantes que em Portugal a diferença aumenta substancialmente: 799 golos e uma média de 2,7.
Despretensiosos exercícios que apenas querem alertar para a necessidade de uma revolução de mentalidades, que retire de circulação os promotores de falsas promessas, aqueles a quem o progresso incomoda. Esta liga portuguesa, tal como se nos deparou neste arranque de temporada 2009/2010 é uma vergonha.
Primeiro, por culpa de treinadores, daquela franja ainda agarrada a conceitos de bairro, a truques, alunos da escola onde o objectivo era transportar para a dimensão de 120x90 metros as habilidades que a máquina de tricotar do passe curtinho a duas velocidades (devagar e devagarinho) oferecia à escala da variante de salão. Depois, por responsabilidade dos árbitros. Essas figuras descredibilizadas e que, agachadas por detrás do biombo da impunidade, se julgam com espaço e autoridade para destroçar carreiras, despromover equipas, influenciar competições; e no que se refere ao disparate grosseiro nem se deram ao decoro de esperar. Logo na primeira jornada, ouvi dizer ontem a antigo árbitro na Rádio Renascença, houve quem não tivesse acatado as instruções de Vítor Pereira o que suscita desde logo aflitiva dedução: há gente na confraria apito fora de controlo...
Além de meter dó quanto à qualidade, esta Liga esconde armadilhas que, pelos vistos, os senhores árbitros teimam em colocar no caminho de quem entendem. O erro não dá prémio mas também não compromete; ou alguém espera que algo de verdadeiramente sério aconteça a Carlos Xistra ou Artur Soares Dias? Tenham paciência o Paços de Ferreira e o Benfica. É evidente que ninguém pode garantir que Carlitos teria introduzido a bola na baliza de Helton nem que o penalty que o defesa do Marítimo provocou e o árbitro não viu se transformaria em golo. Irrecusável é que muito provavelmente Paços e Benfica teriam somado três pontos e FC Porto e Marítimo nenhum. Mas Xistra e Soares Dias não quiseram arriscar. Assim, muito provavelmente, Paços e Benfica foram prejudicados em dois pontos e FC Porto e Marítimo beneficiados em um cada qual. O que significa que na classificação oficial FC Porto e Benfica têm ambos um ponto, mas na classificação adaptada (pelos árbitros) o FC Porto tem mais um e o Benfica menos dois... É precisamente esta discrepância que tem de ser combatida.